quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Dança



Salvador Dalí - Satirical Composition ('The Dance' by Matisse) 1923.
 
 
Os corpos batem ao chão,
num ritmo latino.
Seu corpo baila,
roda, gira e cai.
Sobe o peso,
expande-se o corpo.
Nas rimas que ecoam na sala,
até o braço das poltronas, dança.
O corpo roda sob o próprio corpo.
Todos os corpos, ou, ritmos
do mundo encontram-se.
Num fogo aceso
dos dedos à cabeça.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Sabe, hoje eu acordei pensando, vô.  Talvez, hoje eu tenha acordado pra pensar ou sentir saudade. Sentir saudades do que eu queria ter mostrado pra você. Eu queria poder ter te mostrado a farda e a honra que poderiam prenunciar alguma salvação. Aspirei, mesmo antes de ter, por tanto tempo te mostrar o sorriso que me faria encher o peito. Me apetece a ideia de poder mostrá-la pra você e poder dizer: vô, é essa moça aqui ó. É esse o sorriso que escolhi pra iluminar o meu, do jeitinho que cê falou.
Que é que se salva, vô? Nunca estamos a salvo, nem da saudade tampouco do amor. Eu queria saber se você lembra aquele dia em que, deitado na cama azul, cê me explicou tudo. Mesmo que indiretamente, numa metáfora elucidou o amor a devoção ou busca por olhos que encantassem o peito. Disse abrir portas ou a gentileza de ajeitar a cadeira para que sente, para que aqueles olhos pudessem ter descanso e caminhos. Tua boca quase que murmurava as causiefeito...
- Olha aqui pro meu dedo filho. – você disse, lentamente molhando o dedo na saliva e erguendo-o quase com dificuldade. – Assopra. Você irá perceber que tudo tem uma troca. O ar quente da sua boca esfria a ponta molhada do meu dedo. E, já nisso, é um pouco de você que passa ou fica em mim.
Ah, vô... Será esse meu primeiro sopro no peito? Que vontade de te contar minhas palavras, causos ou loucuras; igualzinho eu aprendi a fazer quando cê me explicava as coisas. Narrava histórias tão épicas e carregadas de sabedoria que os doutos do engenho não souberam reconhecer. Uma vez, de livro aberto, eu procurava a sabedoria do colégio. Numa das páginas, do meio ou do fim, havia um ovo desenhado. Translucido. Cê não sabia do desenho apenas me perguntou:
- Que é que você lê aí filho?
- Ah... vô. Tão explicando aqui como é que é um ovo por dentro.
- Tem muito mais vida dentro de um ovo do que você pensa filho. – com a maestria de quem há muito tempo ensina, em palavras calmas descreve o ovo e o embrião. Disserta vida ou morte, e, parecia esquecer a fragilidade da sua que parecia perder-se em cada palavra.
Quem dera todas as suas expressões pudessem ter mantido-se inteiras na minha memória.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Rir

Sozinho, fico rindo
Te chamando de boba
Pro ar


Do dia a cor
fica diferente
enche-se de sabor.
Andar, pensar
respirar, ou, falar.
Tudo fica
mais completo
por poder sentir
ser,
ter.
Você.


John Singer Sargent's - Claude Monet

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Um devaneio

      Não consigo ouvir um pássaro, tão parecido com uma orquestra, um sol, uma harmonia ou uma flor amarela sem lembrar suas mãos. Seu rosto, seus sorrisos, dão causa, afluem o tempo todo a minha imaginação. E, eu tenho pensado tanto, tanto em você nos últimos dias. A vontade de escrevê-la e descrevê-la é pungente, por vezes dolorosa. Pois nada, nenhuma das palavras escritas nas folhas que rasguei, chega a semelhança do quanto é bom pensar em você. Ou, do quanto é lancinante esperar para vê-la. Ai... tenho pensado tanto em você nas ultimas horas. Pensei em tantas coisas para dizer quando a visse. Palavras que parecem, unicamente, tomar forma na pulsação do meu peito. Reli as folhas amassadas, elas ainda não dizem o que quero. Não consigo ouvir, em pensamentos, as palavras que deveriam estar aqui, escritas. No dito, não consigo. Você, apenas você, pode significar, traduzir, em matéria ou pensamento, os solilóquios que tenho desde aquela segunda-feira. Tenho imaginado se o que aqui escrevo, ou as paginas amassadas, trariam aquele transcendente sorriso ao seu rosto. Se suas musicais e harmoniosas mãos um dia encontrariam novamente essa que aqui te escreve. Que vontade de te escrever, vontade de te ligar... Tenho pensado bastante em você nos últimos minutos...

Salvador Dalí - "La Main" (Les Remords de Conscience), 1930

Poesia


Quanto, cabe num prédio,
de fotografia?
Quanto de poesia
pode existir num grampo?
Entre milhares
de pontos de vista
Latas de Toddy ou pensamentos
escolhi o seu.
Escolhi ter lágrimas
que, no encontro,
ou, confusão,
com a chuva
Traz um sorriso no rosto
que não lembro
se é parte do meu
ou do seu.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Velhinha


Lembro dum quadrinho
em que pedras explodiam
numa caminhada lenta.
O tempo também precisa 
de descanso.
Calma.
Do outro lado do muro,
mesmo que velhinha,
ela esta sentada no banco,
ainda que não seja sozinha.




Memory of the Child Woman - Salvador Dalí


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Amarela

Congela
a primeira flor
Amarela

Nasce
uma segunda flor
Esperando que o tempo passe

Coração
O seu está aqui hoje?
Acho que esqueci o meu,
enquanto a noite soava sua canção.

Salvador Dalí - La Coeur Royal (1953)