quarta-feira, 19 de junho de 2013

Multidão

            Quantas revoluções eu vi na infância. Muitas delas quis viver, estar ali, noutras sonhei. As conversas que se fazem nos armazéns, a lágrima dos prédios ou um guri de camiseta preta com mangas rasgadas e um cabelo rebelde. Que quantidade de vozes e aspirações aquela multidão poderia conter, não tenho certeza; acho que nunca tenho. A dúvida do meu texto às vezes se perde comigo. Meus pensamentos pouco se faziam distantes das possíveis conjecturas de todos aqueles olhos. É raro minha cabeça estar em silêncio.
            A multidão nos leva, o choque nos para por bem ou mal, antes que nossos sonhos sejam alcançados. Sustentados no ar, minhas apreciações fluem obstinadamente; e se interrompem nos seus olhos. Como sempre sorrindo, amarelos como a flor, sob a luz de um poste. As mãos manchadas de tinta seguram a minha, as maçãs do seu rosto se erguem, esticando a brasilidade estampada em seu rosto. Sorrimos um beijo, ou vários abraços. Nossos sonhos se faziam ali.

            Por vezes, meu sonho ou meus olhos te perdiam, e a multidão te levava como meus pensamentos. Sua boca sorrindo amarela, refletindo a tinta do seu rosto ou a luz dos postes, sempre buscava a minha, a procurar com os olhos ou com a alma dos pensamentos. Seu abraço volta e fica eterno, ou quase, num texto. Longo e duradouro no peito, como um pensamento.

Um comentário:

  1. Ainda bem que estamos vivos para nos inspirarmos com este desejo de revolução.. querer ver as coisas melhores e manifestar isso é um sinal de que, nós brasileiros, somos inteligentes o suficiente.

    Beijos.

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