sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Angústia da Espera


E é assim, justamente na minha maior hora de introspecção, solidão e angustia. É cedo e não dormi. Olho pela janela e ao longe já vejo o sol, ele torna a me ofuscar. É estranho, a janela limita minha visão, posso até aumentar seu tamanho, mas me sinto impotente, incapaz de fazer isso. Abrir a janela é como abrir meus horizontes, mas tudo parece tão mais simples e fácil viver assim. Tão fácil quanto viver assim deveria ser sentir-me bem. Porque me cobro tanto quanto a isso? Às vezes acho que seria melhor diminuir-me, embrenhar-me feito um feto, e sem mais nenhum afeto esconder-me. Entrar em algum lugar pequeno, onde o espaço seja suficiente apenas para meu corpo, não quero meus pensamentos comigo, eles torturam-me. E ali dentro, quero permanecer a espera de quem quer que seja. Se for deus, que ele apareça, se for a morte, que venha mais rápido ainda e alivie todo esse sofrimento.
Goethe morreu pedindo mais luz, mais conhecimento. E eu? Morro a espera de que? Como eu morro? Assim, sem nada? Sem minhas respostas? Amiga e companheira estivestes ao meu lado por tanto tempo. Agora, quando mais de você preciso me abandona. Queria apenas poder ouvir o sussurro da sua voz e saber que você está aí pronta a me acolher, pronta a me levar contigo. E passar todo o fim de minha vida na busca de algo que se anseia ter, na busca de toda sabedoria e conhecimento que só vem contigo. A sabedoria vem com a maturidade, devo viver buscando-a mesmo sabendo que só chegaras no fim de minha vida, em minha velhice. É em minha velhice que terei minha felicidade e o encontro contigo. Quero tua transcendência.
                O sol continua ali. Agora mais forte do que antes. Ele parece encher de vida e alegria tudo que está lá fora, e por alguns instantes deixo-me levar pela sua sedução. Hipnotizado, olhando diretamente em seus olhos, sinto que me puxa, que me persuadis. Mas até o sol lembra-me de onde é o meu lugar, de quem devo esperar, pois depois de muito tempo ludibriado com toda sua luz, vida e alegria, ao desviar meu olhar de você, minhas vistas ofuscam. E o que me resta de tudo é só o negro que faz meus olhos arderem.
Mesmo aqui parado, a janela se abre. Estarei eu condenado a improvisar? Todos atuam. Somos atores mandados para cena sem ter um papel, um guia ou um ponto que nos possa sussurrar aquilo que devemos fazer. O desespero e as náuseas, muito mais que a angústia me consomem, sinto-me incapaz de qualquer ação. E na intensidade das palavras, busco incessantemente a filosofia, busco o conhecimento e é com amor que fico a sua espera. Tenho consciência de que vivo e não apenas existo, e que vou morrer um dia, não tenho medo de nada disto, mas quando não consigo achar um sentido em tudo isso resta-me apenas a angústia de ficar a sua espera.

Um comentário:

  1. Me fizeste lembrar de um poema de Antonio Cícero:
    Guardar

    " Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
    Em cofre fechado não se guarda nada.
    Em cofre perde-se a coisa à vista.
    Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la,
    mirá-la por admirá-la, isto é,
    iluminá-la ou ser por ela iluminado.

    Guardar uma coisa é vigiá-la,
    isto é, fazer vigília por ela,
    isto é, estar acordado por ela,
    isto é, estar por ela ou ser por ela.

    Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro,
    do que um pássaro sem vôos.
    Por isso se escreve, por isso se publica,
    por isso se declama e se declara um poema:
    para que ele, por sua vez, guarde o que guarda,
    guarde o que quer que guarde um poema.
    Por isso o lance do poema:
    por guardar-se o que se quer guardar. "

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